sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A construção da imagem do maior Traje Típico Nacional: as Baianas

O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-costa, tem!Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem!Tem saia engomada, tem!
Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!
Quando você se requebrar
Caia por cima de mim
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem
Um rosário de ouroUma bolota assim
Quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim”
(O Que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi)
“No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi caruru, mungunzá, tem umbu
Pra Ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor
De Iaiá
No coração da baiana também tem
Sedução, canjerê, candomblé, ilusão
Pra você
Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
Quero você baianinha inteirinha pra mim
(Tabuleiro da baiana – Ary Barroso)“
Noel Rosa espertamente disse: “...tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia, é brasileiro, já passou de português.”Os negros africanos trouxeram para o Brasil toda sua matriz cultural, sua música, sua comida, sua indumentária e principalmente sua saudade...Os negros que vieram da África povoaram em grande parte os Estados da Bahia, Pernambuco, Maranhão e o Rio de Janeiro com extensão para Minas Gerais e São Paulo. Foi principalmente na emblemática Bahia que as negras africanas mais se destacaram. Há inclusive o mito de que as tias “Ciatas” - que disseminavam o samba em suas casas - trouxeram o samba para o Rio de Janeiro. Elas criaram uma maneira de ser negra, de ser baiana. Até hoje elas dão nome a todas as negras que vestem seus trajes tão característicos da nossa cultura. Daí serem todas chamadas genericamente de “BAIANAS”.A roupa “clássica” das baianas, de influência maometana, compõe-se de torso, bata, pano-da-costa, saia rodada e adornos, como colares, pulseiras, brincos de ouro, prata ou coral.Estas saias rodadas, estampadas em cores vivas, berrantes, trazem muitas anáguas rendadas, engomadas. Elas usam muitos colares coloridos, os famosos balangandãs ou berenguendéns.O pano-da-costa se resumia num pano retangular, de um dois metros de altura, por cinqüenta de largura. Pode ser interpretado de duas maneiras: pano-da-costa pelo fato de ter vindo da costa africana, ou por ser jogado sobre os ombros e as costas. Conforme pesquisadores e historiadores eles visavam distinguir o posicionamento feminino nas comunidades africanas e também nas afro-brasileiras. O pano da costa é tradicionalmente branco ou bicolor, podendo ser listrado ou em madras e serem bordados ou com aplicações em rendas.As batas são blusas de renda folgadas. As baianas ainda vestem chinelas ou calçados baixos, também enfeitados e usam turbantes (torços), brancos ou coloridos.Vemos outras baianas, as de origem mulçumana, usando também uma roupa toda branca, imaculada, cujo pano-da-costa pode ser preto.Ainda trazem um tabuleiro, onde mostram seus produtos à venda, que pode conter vatapá, acarajé, abará, caruru, doces diversos, etc.Isso tudo foi cantado por muitos compositores brasileiros.Mas como este traje passou a ser o “Traje Nacional”? Assimilado como algo genuinamente brasileiro, assim como a bandeira e o hino?Como falei antes, todos os elementos envolvidos na formação étnico-sócio-cultural do Brasil deram sua contribuição para essa criação, e neste momento, entra Portugal, na figura de Carmen Miranda.Segundo Ruy Castro, nas revistas musicais brasileiras, havia sempre números de “baianas”, vestidas de forma simples e tradicional. Em 1892, sobe ao palco a primeira baiana estilizada da história, que foi a roupa usada pela cantora Pepa Ruiz. Muitas outras cantoras de Cassino usaram estes trajes em diversos espetáculos de teatro e no cinema.Carmen só se vestiria de baiana em 1938, quando estrela o filme “Banana da Terra”. Ela própria criou sua indumentária, seguindo a música de Caymmi, com saia rodada, sem as anáguas, para que pudesse dançar livremente e muitos, mas muitos balangandãs. Inclusive foi Caymmi quem pediu para Carmen que quando cantasse sua música mostrasse os adereços, inclusive ele próprio assistiu à filmagem e fazia a mímica dos gestos e movimentos que ela devia executar enquanto cantava. Quem tiver a curiosidade de assistir ao filme "Bananas is my Business", de Helena Solberg e David Meyer, verá esta cena cheia de "fantasia, energia e erotismo".Ela é a criadora-mor desta imagem da “baiana hiper, ultra, super estilizada”, afinal como diz o seu biógrafo mais famoso, Ruy Castro, “era uma roupa para um show - tinha que ser glamourosa - e não para se vender quitutes na esquina.” Foi Carmen quem realmente popularizou em definitivo a vestimenta da baiana estilizada. Aliás essa baiana seria a marca de Carmen Miranda e seu maior sucesso.É essa baiana que veremos sempre entre nossas misses brasileiras. Desde Martha Rocha, que é da Bahia, o traje típico de baiana impera entre as nossas representantes, nos grandes concursos internacionais. Ora mais simples, ora mais esplendorosos, de todas as cores possíveis e imaginadas, como “num turbilhão de espectros arrastadas”.Grandes modistas/costureiros/estilistas fizeram trajes de baiana para nossas representantes.