terça-feira, 10 de novembro de 2009

Volta a cena o Homem com H maiúsculo




O HOMEM COM "H" MAIÚSCULO ESTÁ DE VOLTA


Uma nova categoria entre os homens: o neossexual - localizado entre os metrossexuais e o machões, aquele que representa valores de masculinidade sem perder a sensibilidade. Essa é a nova aposta de Axe, com o lançamento de Instinct, com fragância de couro.

O neossexual é o novo estilo masculino! O metrossexual simplesmente passou à história, deixou de estar na moda. Agora chegou a vez do neossexual, um homem muito mais másculo. Um estudo demonstra que as mulheres procuram um homem um pouco mais rústico do que o metrosexual, e um pouco mais sensível do que o démodé machão.
O sociólogo francês Rivièr diz existir uma explicação biológica, não se trata de uma competição, mas no jogo da sedução cada sexo prefere desempenhar certos papeis. O neossexual seria o homem que não perde o instinto de macho caçador, mas que se permite sensações e comportamentos sensíveis e femininos sem a superficialidade do metrosexual. Sabe como conquistar uma mulher - romântico - nunca se esquece do buquê de flores, mas na hora da verdade, sabe "agarrá-la" de uma forma arrebatadora deixando transparecer toda a sua masculinidade.Este novo conceito de homem foi apontado como o preferido entre as mulheres numa pesquisa feita pela Unilever. Foram ouvidas 2.800 mulheres em 14 países. O estudo mostrou ainda que 72% das mulheres querem um companheiro forte e determinado - que sabe o que quer, vai atrás e consegue. “As mulheres querem uma masculinidade mais evoluída. Elas rejeitam qualquer comportamento que anule as diferenças. Não gostam, por exemplo, que eles demorem mais tempo do que elas para se arranjarem quando vão sair, especialmente, quando estão usam os produtos de beleza dela”, diz Elisabete Lemos, gerente de marketing da marca. Os metrossexuais são uma página virada na agenda de qualquer mulher! De acordo com a pesquisa, elas estão cansadas da competição masculina com a estética (75% alegaram que não querem mais dividir seus produtos de beleza com os homens).


Depois do “boom” do homem metrossexual nasce um novo modelo de homem, o neossexual. 80% das mulheres quer um homem sensível mas que demonstre o seu lado viril e másculo. O novo homem quer ter uma posição social forte e construir novas práticas sociais. O cabedal (a pele curtida, não a musculatura, entenda-se) é o elemento-chave deste novo homem.

Segundo o estudo[1] realizado pela Axe, em 14 diferentes países, 59% das mulheres admite estar cansada do homem metrossexual e lançam o desafio aos homens de recuperar o seu vigor masculino. Neste novo ambiente, as mulheres rejeitam comportamentos que façam desaparecer as diferenças entre sexos. Exemplo disto são homens que demoram mais tempo do que elas a arranjar-se, que utilizam excessivamente produtos de beleza, etc..

“É possível perceber que as mulheres, que dedicam tempo e energia a cuidar do corpo e da aparência física – para desenvolver seu papel da mulher no jogo de sedução – recusem homens que decididamente entram na área do extremo cuidado corporal e se posicionam no jogo de sedução, que pertence às mulheres” afirma o sociólogo Jaime Carmona (Colômbia).


A necessidade da nova e moderna mulher é encontrar um homem com o equilíbrio entre a virilidade e a sensibilidade. Ela quer um homem que realce o seu lado mais forte e tradicional com permissão para ser sensível. Um homem que não precise de provar nada a ele próprio. Que seja auto-confiante e determinado, mas que não se proíba de ter valores emocionais, e ainda que ofereça flores à sua mulher e continue a amá-la apaixonadamente.

De acordo com o estudo 85% das mulheres afirma que o que a seduz mais, num homem, é o beijo apaixonado, a determinação quando as levam para a cama e a forma como as fazem sentir sensuais e desejadas.

A nova luta dos homens é conseguir integrar-se no caminho para uma nova masculinidade. Esta pode ser elevada à posição de virilidade e força, mas mesmo assim torna-o mais humano deixando espaço para a sensibilidade, que permite a participação das mulheres no seu modelo de vida. Isto porque viver com o companheiro é o mais recente valor social das mulheres dos nossos dias.

Neossexual, o modelo do homem atual "que resgata as suas raízes mais viris mas que não proíbe o lado afetivo"

Para qualquer lado que se vá ou época que se percorra, sentimos que os valores tradicionais do homem estão sempre fortemente marcados pela força física e coragem. À medida que o tempo passa foram-se construindo novos modelos, que fazem referência a um homem que entra num mundo sem complexos, que toma novas atitudes que até então estavam apenas reservadas às mulheres e que descobre um lado mais sensível.

Focando o olhar no estudo, trazido pela Axe, apercebemo-nos que uma nova identidade masculina está a emergir. O novo significado de “being male” (ser homem) indica uma nova forma do mesmo poder olhar para si e tomar uma posição social no tempo atual.

O novo modelo de homem, segundo o sociólogo Frederico De La Vega (Argentina), nasceu de um misto de tradição e mudança “com novos e antigos atributos masculinos – uma nova síntese de ser homem hoje em dia…Um novo tipo de homem se levanta: o Neossexual”.

A imagem de um homem duro, emocionalmente controlado e difícil de suportar entrou em crise assim como o homem que encontrou o seu lado feminino e não teve medo de o expor. A construção e aceitação deste novo modelo, o Neossexual, abre espaço para novas práticas sociais que tanto comportam a tradicional masculinidade, como a consciência de que o homem é um ser emotivo e que não precisa de o esconder.

Neste sentido surge um elemento masculino que traduz esta nova identidade do homem, o cabedal. Desta nova masculinidade espera-se uma mistura de firmeza e flexibilidade simbolizada por este elemento. Representativo do tradicional e do novo tipo de homem, o cabedal mostra a virilidade de todos os tempos que ainda assim quer tomar um acentuado relevo nesta nova fase.

Modelos de homem que se destacaram ao longo do tempo:

Metrossexual – homem que vive extremamente focado em si próprio descobrindo assim o seu lado mais feminino. Traduz-se num homem cosmopolita e sem quaisquer complexos nas suas atitudes e atividades.

Tecnossexual – homem que ainda toma muito em consideração o seu lado feminino mas vive numa obsessão constante por computadores e novas tecnologias.

Ladult – referência a um pai ideal. É preocupado, único e auto-confiante.
Ubersexual _ (em alemão Uber significa melhor, acima de).São os mais atraentes (não só fisicamente), os mais dinâmicos, os mais convincentes da sua geração, os mais confiantes em si mesmos, masculinos, têm estilo e interessam-se verdadeiramente por todos os assuntos.

[1] O estudo foi realizado pela Datos Claros, empresa de estudos de mercado argentina, num universo de 2800 mulheres, dos 18 aos 35 anos, de 14 diferentes países: Argentina, Brasil, México, Estados Unidos da América, Austrália, Espanha, Itália, França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Índia, Filipinas e Japão.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Leitura _ Moda :uma filosofia

A segunda pele

SVENDSEN VÊ A MODA COMO UM DOS FENÔMENOS MAIS INFLUENTES DO OCIDENTE, MAS ATACA A FALTA DE ORIGINALIDADE E DE CRÍTICOS INDEPENDENTES
A moda, se for vista como arte, é uma arte bastante insignificante; é, com freqüência, uma repetição de gestos vazios.

Livros sobre a moda existem às pencas, mas há poucos que merecem um lugar na estante, como "Fashion - A Philosophy" (Moda - Uma Filosofia, Reaktion Books, 188 págs., 12,95, R$ 39), de Lars Svendsen. Há muito tempo a moda não é objeto de uma reflexão aprofundada, pertinente, atual e provocadora como a que é feita neste livro.Professor na Universidade de Bergen (Noruega), Svendsen é um dos jovens pensadores europeus que merecem ser seguidos com atenção. Tem 37 anos e já publicou quase uma dezena de obras, cujos temas tratam da arte, da biologia, do mal e, agora, do trabalho -"Work", seu novo livro, será lançado na Europa e nos EUA em setembro.No Brasil, seu único livro publicado é "Filosofia do Tédio" (Jorge Zahar Editor)."Moda" foi lançado na Noruega em 2004. As traduções começaram a aparecer há pouco mais de um ano -em países europeus e nos EUA.A abordagem de Svendsen é ambiciosa. Em oito capítulos, reflete sobre todos os lados do prisma da moda, tratando de suas relações com a linguagem, o corpo, a arte e o consumo.Arremata com uma reflexão sobre a "moda como ideal de vida", tal como o capitalismo avançado nos coloca.Todos os principais filósofos e sociólogos que refletiram sobre moda passam pelo crivo e pelo debate de Svendsen -de Kant a Adorno, de Simmel a Benjamin, de Adam Smith a Gabriel Tarde, de Elias a Bourdieu. Por isso, o livro é também um precioso apanhado da (periférica) reflexão sobre moda na filosofia e na sociologia.Svendsen possui ainda um impressionante conhecimento da história da moda e pesquisou bastante a produção do seu discurso contemporâneo. Isso lhe permite passar com desenvoltura a comentários sobre os estilistas Martin Margiela ou Rei Kawakubo (da grife Comme des Garçons).Ele sabe o risco que corre ao escrever este livro, do ponto de vista intelectual. Sabe que fazer filosofia da moda é ser acusado de falta de substância ou seriedade. Mas, atento à atualidade, enfrenta o desafio, imbuído da certeza de que é preciso refletir sobre este que é "um dos fenômenos fundamentais do mundo contemporâneo". "A moda converteu-se em quase uma "segunda natureza" nossa", diz em entrevista à Folha.Svendsen analisa sem piedade as pretensões artísticas da moda ("Se a moda devesse ser considerada arte, seria uma arte pouco significativa", aponta), a imprensa especializada e a criação atual dos estilistas. Também discute a incapacidade da moda em estabelecer um diálogo "com a evolução política da sociedade".Mas seu livro não foi feito para demolir a moda e seus mitos, e sim para investigar por que o discurso sobre ela se tornou tão dominante e "totalitário", infiltrando-se na cultura em geral. Ele pretende sondar como a produção de identidade(s), hoje, está sujeita a esses paradigmas de consumo e transitoriedade que são próprios da moda."Não existe área alguma de nossa vida social, seja a arte, a política ou mesmo a filosofia, que não seja em grande medida regida pela lógica da moda", afirma Svendsen a seguir.
FOLHA - O sr. diz em seu livro que ser um "filósofo de moda" é correr o risco de ser acusado de falta de substância ou de seriedade. Por que decidiu se debruçar sobre esse assunto? LARSSVENDSEN - Eu havia escrito um pouco sobre moda em meu livro sobre o tédio, e ali observei que se fazia necessário um estudo filosófico mais cuidadoso da moda.A razão pela qual a moda tem importância tão grande hoje é que ela afeta a atitude da maioria das pessoas em relação a elas próprias e aos outros. Como observo no livro, desde a Renascença ela tem sido um dos fenômenos mais influentes na civilização ocidental.Vem conquistando cada vez mais áreas do homem moderno e se converteu quase em uma "segunda natureza" nossa.Assim, a compreensão da moda deve contribuir para a compreensão de nós mesmos e de como pensamos e agimos.
FOLHA - O sr. diz também que nosso pensamento continua marcadamente platônico. Refletir sobre a moda é estar movido essencialmente por um antiplatonismo?
SVENDSEN - Eu mesmo sempre desconfiei das metáforas filosóficas tradicionais de "profundidade" e "superfície", em que profundidade equivale a "verdade" e superfície é, de alguma maneira, enganoso ou falso.Não importa qual seja o tópico filosófico que nos propomos a investigar, acho que sempre devemos tentar fazer justiça aos fenômenos em si, da maneira como se manifestam. Isso significa que também devemos levar a "superfície" a sério.Em relação a isso, concordo com Oscar Wilde: "São apenas as pessoas superficiais que não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível".
FOLHA - Poderíamos dizer que o mercado da moda, com a sua rapidez de produção e de consumo, com a sua busca irrefreável de originalidade e substituição, tornou-se uma espécie de paradigma de marketing e negócios para o capitalismo atual?
SVENDSEN - Moda e capitalismo são perfeitamente adequados um ao outro. O capitalismo só pode funcionar enquanto o consumidor continuar a comprar produtos novos, e o consumidor que está na moda depende de um fluxo constante de produtos novos.O princípio da moda é criar uma velocidade constantemente crescente, para fazer um objeto tornar-se supérfluo o mais rapidamente possível, para então passar para outro.A consciência do poder da moda é a consciência de que os produtos não vão durar; e, se vamos escolher um produto que inevitavelmente ficará ultrapassado, vamos tender a escolher a última moda, e não uma moda anterior. Os produtos não duram, nem se pretende que o façam.Essa é uma parte importante da atração exercida pelo produto pós-moderno: daqui a pouco poderá ser substituído!
FOLHA - Para o sr., a criação em moda responde sobretudo a solicitações internas, sendo a própria moda incapaz de um diálogo com "a evolução política da sociedade". Por que a moda é tão impenetrável aos acontecimentos sociopolíticos?
SVENDSEN - Há várias razões para que isso aconteça. Uma questão evidente na moda, e em muitas outras disciplinas estéticas, é que a maior parte da moda é baseada em modas anteriores, assim como a maior parte da arte é feita a partir de artes anteriores.Se você quiser explicar uma determinada moda, é mais provável que encontre uma resposta plausível analisando modas passadas, em vez de tentar enxergar a moda como reflexo da realidade política ou social.Além disso, a moda possui uma capacidade incrível de apagar o significado simbólico de tudo o que incorpora.Foi por isso que Che Guevara pôde tornar-se um item altamente vendável em um sistema de moda capitalista. Nas camisetas com sua imagem, não resta praticamente nada da política revolucionária de Che (nem de suas mãos ensangüentadas, já que ele torturou e executou prisioneiros políticos).Quando se vende moda, vende-se um valor simbólico; ao mesmo tempo, a moda tende a apagar esse valor simbólico muito rapidamente, de maneira que precisa constantemente buscar novos valores simbólicos que possa "canibalizar".E o underground é um dos maiores fornecedores de tais valores simbólicos.
FOLHA - O sr. também diz que a moda é "praticamente incapaz de comunicar qualquer coisa de significativo". Comparando-a com a arte, afirma que a moda "parece encastelada num círculo onde, na prática, não faz mais que se repetir e perder pouco a pouco o significado". Isso quer dizer que ela ocupa um lugar inferior na esfera da cultura?
SVENDSEN - Desde a separação entre a arte e o trabalho artesanal, no século 18, os alfaiates ficaram do lado do artesanato. As roupas foram colocadas na esfera extra-artística e ali permaneceram até hoje.Desde que a alta costura foi introduzida, por volta de 1860, a moda aspira a ser reconhecida como arte plena. Essa tendência vem se fortalecendo nos últimos 30 anos.Embora a arte às vezes encontre inspiração na moda, é mais comum que a moda tente tornar-se arte. O problema é que, embora haja instâncias de moda que estão inteiramente no nível da arte, a maior parte do que se passa na moda é artisticamente desinteressante.De modo geral, a moda, se for vista como arte, é uma arte bastante insignificante. Com freqüência, não passa muito de uma repetição de gestos vazios que já foram consumidos no campo da arte.
FOLHA - O que o sr. quer dizer quando afirma que "hoje a moda se encontra no ponto mais baixo de sua curva criativa"?
SVENDSEN - Que muito pouca coisa da moda criada hoje possui interesse estético. Quando vemos uma coleção nova de um estilista, a reação típica é dizer que ela é "bacana", mas que já a vimos só Deus sabe quantas vezes antes.Anteriormente, a moda seguia uma norma modernista, segundo a qual uma moda nova deveria tomar o lugar de todas as anteriores e torná-las supérfluas. A lógica tradicional da moda é a lógica da substituição.Nos últimos dez a 15 anos, porém, ela vem sendo definida por uma lógica da suplementação, em que todas as tendências são recicláveis e em que uma nova moda não tem por meta tomar o lugar de todas as que a antecederam, mas se contenta em suplementá-las.A própria qualidade de ser "novo", que era essencial à moda no passado, deu lugar a uma eterna recorrência do mesmo.
FOLHA - Em contraposição a Boris Groys, que descreve a moda como antiutópica e antitotalitária, o sr. afirma que "a moda é o fenômeno mais totalitário do mundo, porque assujeitou praticamente todos os campos à sua lógica e assim se tornou onipresente". Que tipo de totalitarismo é esse?
SVENDSEN - Ela é totalitária na medida em que praticamente não existe área nenhuma de nossa vida social, seja a arte, a política ou mesmo a filosofia, que não esteja em grande parte regida pela lógica da moda.É um mecanismo social que tem uma capacidade espantosa de transformar todo fenômeno social com que tem contato.
FOLHA - Por que as modelos se transformaram em grandes estrelas midiáticas de nossa época? Que função elas exercem na "ideologia da realização estética" do sujeito, como o sr. escreve?SVENDSEN - As modelos são a mais alta encarnação de uma cultura em que nossas identidades essenciais devem estar situadas em nossos corpos, não em nossas almas. A formação da auto-identidade na era pós-moderna é, num sentido crucial, um projeto do corpo.O corpo tornou-se um objeto de moda especialmente privilegiado. Aparece como algo plástico, que se modifica constantemente para adequar-se às novas normas que surgem. E as modelos são as representantes maiores dessas normas.Mas mesmo elas não chegam a adequar-se às normas. Já na década de 1950 não era incomum que modelos se submetessem a cirurgias plásticas para se aproximarem das normas, por exemplo removendo seus molares posteriores para conseguir ter faces cavadas ou tendo costelas removidas para alcançar o formato de corpo desejado.A distância entre os corpos das modelos e os corpos "normais" continua a aumentar. Assim, a norma se torna pura ficção, mas nem por isso perde sua função normativa.
FOLHA - O sr. escreve que uma razão importante pela qual a moda não obteve um reconhecimento parecido àquele atribuído às outras artes é que ela não tem uma tradição de crítica séria. Por que a moda nunca desenvolveu uma crítica séria, na sua opinião? Como o sr. imagina que deva ser essa crítica?
SVENDSEN - Acho que ela deveria ser bastante semelhante à crítica de arte, com críticos independentes que são livres para dizer o que realmente pensam da qualidade dos objetos que submetem a seu escrutínio. Esses críticos devem, de preferência, ter uma formação em história da moda.A maior parte do que se escreve sobre moda em revistas hoje em dia é simplesmente uma extensão da publicidade. Os redatores de moda têm medo de criticar os estilistas, já que isso poderia resultar em menos anúncios em suas revistas. Uma tradição de crítica séria de moda não poderá ser criada de um dia para outro -levará tempo.Mas isso será necessário para que algum dia a moda possa ser realmente levada a sério como disciplina estética.
FOLHA - O sr. critica a idéia do sociólogo francês Gilles Lipovetsky -de que a moda torna o mundo mais democrático, pois substitui as disputas de fundo por um gosto da superfície- e afirma que a democracia tem necessidade dos atritos sociais e do dissenso. A moda, com seu gosto pela elitização, não é essencialmente antidemocrática? Redes como a Zara efetivamente democratizam o design de moda?
SVENDSEN - Essas redes de fato democratizam a moda, pois a tornaram acessível a uma parte maior da população. Mas não vejo isso necessariamente como grande vitória democrática.O número de peças de roupa que podemos encontrar no guarda-roupa do cidadão mediano não chega a ser um bom indicativo do funcionamento adequado, ou não, das instituições democráticas de seu país.
FOLHA - Em um comentário duro, o sr. diz que, se a lógica da moda se torna norma na construção da identidade, ela pode se tornar um fator desagregador. E conclui que caminhamos para a completa "dissolução da identidade". Como a moda participa disso?
SVENDSEN - Todos nós, de alguma maneira, expressamos quem somos por meio de nossa aparência visual, e essa expressão vai necessariamente dialogar com a moda. E os ciclos de moda cada vez mais acelerados indicam um conceito mais complexo do eu, porque o eu se torna mais transitório.O consumidor pós-moderno não consegue firmar uma identidade pessoal viável por meio de seu consumo porque o fato de esse consumo focalizar o transitório enfraquece a formação da identidade. Se nossa identidade é diretamente vinculada às coisas que nos cercam -ou seja, ao valor simbólico das coisas-, essa identidade será tão transitória quanto são aqueles valores simbólicos.
FOLHA - O sr. vê alguma relação entre moda e tédio?
SVENDSEN - Essa relação existe. A moda cria uma mentalidade inquieta e agitada, na qual nos entediamos muito facilmente e constantemente ansiamos por algo novo e "interessante".Como observei em meu livro sobre o tédio, o olhar estético precisa ser estimulado por uma intensidade aumentada ou, de preferência, por algo novo.Vale observar, entretanto, que o olhar estético tem a tendência a recair no tédio -um tédio que define todo o conteúdo da vida de maneira negativa, porque é aquilo que precisa ser evitado a qualquer preço. O consumo de moda funciona como uma espécie de entretenimento, e é uma maneira cada vez mais comum de combater o tédio. Passamos a ser cronicamente estimulados por um fluxo constante de fenômenos e produtos "novos", mas também nos entediamos mais rapidamente, em igual medida.
Tradução de Clara Allain .
ONDE ENCOMENDAR - Livros em inglês podem ser encomendados pelo site http://www.amazon.co.uk/
Matéria publicada em 31/08/08 no Caderno Mais do Jornal Folha de S. Paulo

Pense Moda


O QUE ?
O Pense Moda é um seminário anual, com base em São Paulo, que promove encontros de profissionais nacionais e internacionais nas áreas de fotografia, styling, direção de arte, beleza, jornalismo de moda, novas mídias, cultura e comportamento.
QUEM ?
Cecilia Dean, Carlos Miele, Maroussia Rebecq, Gloria Kalil, Paulo Martinez, Jean Michel Bertin, Paulo Caruso, Lars Svendsen, Alexandra Farah, Baixo Ribeiro, Renata Simões, e muito mais!
QUANDO?
O evento acontecerá nos dias 3, 4 e 5 de novembro de 2009, na Faap em São Paulo, das 20h às 23h. O evento também será transmitido gratuitamente através da internet.
AQUI VOCÊ CONFERE AS PALESTRAS:

Leitura recomendada :Stylist:The Interpreters Of Fashion


Que tal incrementar sua biblioteca de moda? O style.com acaba de lançar STYLIST: The Interpreters of Fashion, um livrinho dedicado ao trabalho de stylists famosos. A publicação foi organizada por Anna Wintour, e os textos são da jornalista de moda Sarah Mower.
Uma boa olhada nos leva direto aos trabalhos de gente como Paul Cavaco, Carlyne Cerf de Dudzeele, Grace Coddington, Edward Enninful, Lori Goldstein, Tonne Goodman, Carine Roitfeld, Venetia Scott, Karl Templer, Melanie Ward, Alex White, Brana Wolf, Joe Zee. O time foi convidado a interpretar um grupo de dezesseis fashion insiders de várias nacionalidades e culturas. O resultado são 225 páginas clicadas por Richard Avedon, Annie Leibovitz, Helmut Newton, Mario Testino…

Onde encontrar esta preciosidade e quanto custa é jóia ?Livraria Cultura, por R$ 182,25.Vale a pena o investimento.

Leitura : Born _Again Vintage


O livro Born - Again Vintage é ótimo para stylists, pesquisadores e admiradores da estética retrô. O livro ensina 25 truques para reaproveitar, reciclar e reinventar com as peças do seu guarda-roupa.
Ainda traz modelos e instruções para modernizar suas peças combinando elas com roupas e acessórios vintage.
Onde você encontra e compra? Na livraria Cultura custa R$ 60,63 .

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Exposição mulheres reais , modas e modos no Rio de D. João VI


Está acontecendo no Palácio das Artes Exposição: Mulheres reais – modas + modos no Rio de D. João VI de 09 de outubro a 22 de novembro, na Galeria Alberto da Veiga Guignard.
A exposição está dividida em vários módulos a mostra dá um panorama da época tratando desde o figurino de importantes nomes da realeza, como D. Maria I, Carlota Joaquina e Leopoldina até as vestimentas usadas por suas mucamas, curadoria assinada pela conceituada figurinista Emilia Duncan.
A exposição “Mulheres Reais – Modas e Modos no Rio de Dom João VI” revela, a moda – a indumentária e seus usos, como uma importante manifestação cultural e social do Rio de Janeiro, quando a cidade era capital do império português. A mostra, inaugurada em 9 de outubro , é tecida por uma narrativa lúdica do cotidiano do universo feminino.Trajes e acessórios autênticos do Museu Nacional do Traje de Lisboa, do Museo del Traje de Madrid e do Wien Museum – Mode Depot de Viena, e jóias de escravas do acervo do Museu Costa Pinto de Salvador integram o conteúdo museológico e representativo da exposição, ressaltando a nobreza e a dignidade de negras e brancas de dois séculos atrás, compondo, juntamente com os figurinos e recriações, um quadro que permite descobrir as mulheres reais, através de lentes que transcendem o estereótipo e a anedota, e captam a riqueza das mulheres da época.

Mulheres reais, mulheres brasileiras
As mulheres reais não são apenas as da realeza – rainhas da Casa de Bragança, mas também aquelas que ajudaram a construir hábitos e costumes da sociedade urbana carioca em formação no período joanino, tanto as mulheres de colonos protegidas por suas mantilhas, quanto as mulheres africanas escravizadas – despojadas e sensualmente vestidas, únicas a circularem livremente pelas ruas e praças do acanhado povoado colonial.
As modas e os modos das mulheres da realeza são recriados através de figurinos de D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina, permitindo uma aproximação completamente diversa das descrições estereotipadas e caricaturais. A exposição capta a contingência singular de cada uma delas para revelar a Maria, que não foi apenas piedosa e louca, a Carlota, que está além da feiúra e da intriga, e a Leopoldina, que não se limitou ao papel de mulher-mártir.
As modas e os modos das outras mulheres brancas e negras da realidade brasileira, protagonistas da construção da realidade social cotidiana durante a permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro, são revelados na diversidade dos trajes e trejeitos expressos na criatividade das curadoras da exposição, a escritora Cláudia Fares e a figurinista Emília Duncan, que resgatam, inclusive, a influência das cores das obras de Debret no universo feminino contemporâneo.

Moda, uma representação da história cotidiana
A exposição “Mulheres Reais – Modas e Modos no Rio de Dom João VI” está instalada num museu porque propõe uma reflexão sobre a moda como expressivo vetor da cultura e da organização social da época. As mulheres da realeza e as mulheres da realidade são diferentes nas modas e nos modos, mas guardam nas suas histórias uma mesma identidade. Ricas ou pobres, escravas ou esposas de colonos, brancas ou negras, rainhas ou trabalhadoras, todas, sem exceção, tiveram que deixar seus territórios físicos e simbólicos e reconstruir no Brasil suas identidades, suas histórias, reinventando a cultura carioca e brasileira. A licença poética é o recurso empregado para a reconstrução das modas e dos modos das mulheres na abertura da exposição – Mar de Mundos, e em cada um dos três grandes e originais módulos da exposição – Mulheres da Realeza; Mulheres da Realidade; O Passado no Presente: 1808 em 2008. O mar é o elemento que acolhe imagens dos mundos que ficaram para trás, do novo mundo colonial e da abertura dos portos. As relações femininas com o poder são desveladas em três mulheres que governam, D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina. Os figurinos inspirados nos retratos oficiais dessas rainhas constituem a narrativa da passagem do Antigo Regime para o Império, e proporcionam a percepção das mudanças políticas e econômicas na cultura e nas transformações da moda – o aparato dos trajes monárquicos, fortemente marcados pelo barroco, dão lugar às linhas simplificadas do neoclássico.

Caixa de memória, ateliê de referências
A exposição funciona como uma caixa de memórias do universo feminino, um ateliê de referências na pós-modernidade, que costura através da moda a história e a contemporaneidade. Oferece a oportunidade de indagarmos quantas mulheres de Debret ainda percorrem as nossas ruas, sugerindo uma releitura do Rio antigo em recriações com modelos vivos, inspiradas nas aquarelas luminosas do artista.
“Mulheres Reais – Modas e Modos no Rio de Dom João VI” foi criada por Duncan e Fares a partir de uma idéia da jornalista Kika Gama Lobo. Elas contaram com a consultoria do historiador de arte Júlio Bandeira; do historiador de moda João Braga; do antropólogo Raul Lody e com a colaboração do especialista em biografias de rainhas Bruno Astuto. O projeto museográfico é assinado por Lídia Kosovsky, e o projeto multimídia por Marcello Dantas.
Serviço
Evento: Mulheres reais – modas + modos no Rio de D. João VI
Local: Galeria Alberto da Veiga Guignard
Data: 09 de outubro a 22 de novembro
Horário: 2ª-feira, 18h-21h / de 3ª-feira a sábado, 9h30-21h / domingo, 16h-21h
Entrada franca
Balcão de Informações: (31) 3236-7400

domingo, 1 de novembro de 2009

De olho nos lançamentos , em terra de autodidatas e desinformados , só mesmo a leitura salva!!!




Lançamentos do mercado editorial , duas ótimas publicações de moda estão vindo por aí: a editora Bookman está lançando a coleção Fundamentos de Design de Moda, com as obras "Pesquisa e Design" e "Tecidos e Moda".
O primeiro aborda a pesquisa de idéias para desenvolvimento de produtos e o segundo apresenta os principais tecidos usados para confecção do vestuário. Ambos custam R$ 76, 00.

Salvador ganha nova temporada de desfiles



De 27 a 29 de outubro, os amantes do look sportwear tem encontro marcado em uma das mais belas paisagens de Salvador, a baía de Todos os Santos. É que nestes dias acontece o Yacht Summer Fashion, com desfiles de mais de vinte grifes de roupas, calçados e jóias, que apresentam suas coleções para o Alto Verão, na sede do Yacht Clube da Bahia (Ladeira da Barra – Salvador).Evento com cunho beneficente, terá a renda total apurada com a venda dos ingressos direcionada às obras sociais da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória.
Entre as grifes que compoem line up do evento estão dois ícones franceses da moda esportiva de luxo, a Vuarnet, que terá seu desfile organizado pelo herdeiro da marca, Alain Vuarnet, e a Villebrequin, famosa pelas bermudas com estampas diferenciadas.
O desfile da marca fundada por Jean Vuarnet e atualmente comandada pelo herdeiro Alain apresentará ao público 15 looks da nova coleção Verão 2010. Entre as principais tendências para o Alto Verão da Vuarnet na moda masculina e feminina estão: o trio azul marinho, vermelho e branco – representando as cores da França, país sede da marca – além das indispensáveis camisas pólo e dos famosos óculos de sol da grife. A nova coleção chega com tecidos leves com cores claras e tons pastéis. No mix de produtos há ainda os tons mais fortes como o verde bandeira e o laranja.
Conhecida como uma das mais importantes marcas de moda praia masculina de luxo, a francesa Vilebrequin trará para a passarela do Yacht Club os modelos de bermudas e shorts de banho criados para o Alto Verão. As peças são desenvolvidas em um tecido fabricado exclusivamente para a marca. Com tratamento peletizado e toque de algodão. As coleções são compostas por 150 a 200 itens, com tamanhos entre 2 anos a 6XL, distribuídos em 16 modelos de corte. O grande clássico é o modelo “Moorea”, original dos anos 70, que é constantemente reatualizado. As estampas são exclusivas e fazem parte da identidade da marca, envolvendo temas tropicais como flores, animais e frutas. Já a gama de lisos também é bem vasta, propondo uma paleta de mais de 50 cores. A grife ainda oferece uma linha de roupas, em linho, que vai de camisas, calças e bermudas a acessórios.
Confira a programação completa do evento:
DIA 27/10
1º desfile – 20h


Tommy Hilfiger


Lacoste


AD Life Style


Costa Leste


Skyler
2º desfile – 22h


Vilebrequin


Gregory


Domizia
DIA 28/10


1º desfile – 20h


Santta Fé


Coco Doce


Nina


Única
2º desfile – 22h


Benta


Victor Hugo


Bobstore
DIA 29/10


1º desfile – 20h


Capodarte


Raphaella Booz


Samello


Andarella


Salto15
2º desfile – 22h


Adriana Jóias


Vuarnet


Martha Paiva
Serviço:O quê: Yacht Summer Fashion


Onde: Yacht Clube da Bahia – Av. Sete de Setembro, 3252- Ladeira da Barra


Quando: 27 a 29 de outubro, às 20h


Ingressos: R$ 25,00.


Podem ser adquiridos por sócios e convidados na sede do Yacht Clube da Bahia e na Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, no Largo da Vitória

Memória paulistana


Observe só o tamanho dos chapéus de Albertina Guedes Nogueira e Altimira Guedes Penteado, irmãs de Olívia Guedes Penteado, patronesse do movimento modernista. Sinônimo de glamour no início do século passado, o adereço foi usado para compor a foto, feita em 1905 em uma viagem das duas a Paris. O retrato pertence à coleção do sociólogo Carlos Marcondes de Moura e está na exposição Imagens do Feminino. Em cartaz na Casa da Dona Yayá (Rua Major Diogo, 353, Bela Vista, 3106-3562), a mostra reúne acessórios que eram moda na sociedade 100 anos atrás.

Coco Chanel - A Moda em Tempos de Guerra


O filme Coco antes de Chanel passa longe do ponto mais polêmico da biografia da estilista: sua colaboração com os nazistas
Por Mary Del Priore

A estilista francesa Gabrielle Chanel (1883-1971) é a personagem dos sonhos de qualquer diretor de cinema. Sua trajetória é recheada de sexo, heroís­mo e política. Sexo: teve entre seus diversos amantes cabeças coroadas, milionários e mandatários da política, que influenciaram decisivamente sua vida. Heroísmo: emergiu de uma infância pobre para se tornar uma revolucionária do mundo da moda, a primeira mulher a brilhar no ofício de vestir mulheres - exatamente por saber, nesse departamento, o que as mulheres realmente queriam. Política: viveu a época mais dramática do século 20, a das duas guerras mundiais, tendo uma relação perigosamente próxima - e vergonhosamente cooperativa - com os líderes nazistas. No filme Coco antes de Chanel, que entra em cartaz no Brasil neste mês, a diretora Anne Fontaine, nascida em Luxemburgo, desperdiçou personagem tão fascinante. Ela optou por mostrar, na tela, apenas o lado heroico da estilista, ignorando a complexidade da mulher que revolucionou a moda. E deixando de lado o momento mais dramático da vida de sua protagonista, aquele que poderia conferir densidade a seu filme e fazer com que a obra ganhasse relevância: a colaboração de Chanel com o 3o Reich de Adolf Hitler.
Gabrielle Chanel - ou Coco, "queridinha", nome que adotara quando cantava em cafés entre os anos de 1905 e 1908 - já era bastante conhecida quando, martelando as botas no famoso passo de ganso, as tropas do Führer cruzaram o Arco do Triunfo, em Paris. Os chapéus, o look masculino, as roupas confortáveis e o famoso "pretinho básico", tudo recendendo ao perfume Chanel no 5, lançado em 1922, a tinham consagrado. Mas foi durante a Segunda Guerra que seu papel chamou a atenção dos historiadores. Foi quando a já famosa estilista ligou-se, como tantos franceses, aos alemães. Tal tipo de ligação ao longo dos anos ficou conhecida como "colaboração".
Chanel passou toda a ocupação no famoso Hotel Ritz, quartel-general dos nazistas em Paris e bem pertinho de sua loja, na rue Cambon. Já havia algum tempo ela era simpática aos nazistas - um de seus ex-namorados, o cartunista Paul Iribe, era partidário de que uma estreita relação com os alemães podia ser benéfica à França. Antes da guerra, Chanel já se alinhava à direita e era descrita como alguém de ideias racistas. No Ritz, sua companhia permanente era o alemão Hans Gunther von Dinck­lage, um misto de playboy, oficial e espião enviado à França para preparar a invasão nazista. Spatz, ou pardal - como era chamado em referência ao pássaro que está em toda a parte -, era 13 anos mais jovem do que ela. Nessa época, a estilista tentou se aproveitar do antissemitismo reinante para espoliar os sócios Pierre e Paul Wertheimer, judeus, que a ajudaram no início da carreira. Alta traição, na medida em que os Wertheimer eram seus parceiros no negócio de essências e responsáveis pelo sucesso do perfume Chanel no 5.
Coco movimentava-se nos mais altos círculos militares alemães e desempenhou um papel decisivo num dos episódios mais bizarros da Segunda Guerra, a chamada Operação Modelhut. "Modelhut", em alemão, significa "chapéu da moda", referência ao fato de Chanel ser uma estilista e confeccionar para mulheres chapéus masculinos. A ideia estapafúrdia consistia em promover uma aproximação entre o alto-comando germânico e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, com o objetivo de cooptar os ingleses - acredite! - para a causa nazista. Chanel foi escolhida para a missão estapafúrdia pelo estreito contato que mantinha, de um lado, com um ex-amante, o inglês Hugh Richard Arthur Grosvenor, o duque de Westminster, que era próximo de Churchill, e, de outro, com Walter Schellenberg, chefe do serviço de espionagem e inteligência nazista e assistente direto de Heinrich Himmler, uma das figuras-chave na execução do Holocausto. Por desempenhar serviços como esse, Chanel prosperou durante a guerra. Abriu lojas em Deau­ville e Biarritz. Segundo alguns autores, o logotipo CC tem a ver com a suástica e com o conhecido SS que ornamentava as roupas negras desses conhecidos oficiais.
Os estudiosos identificam dois tipos de colaboracionismo. O primeiro, "de Estado", teria o objetivo de salvaguardar os interesses franceses, assegurando ao país uma posição confortável na Europa ocupada. O governo do marechal Philippe Pétain, sediado em Vichy - a cidade que se tornou a capital administrativa do país depois da queda de Paris -,disseminava a ideia de que a colaboração era um caminho para a liberação. Fazia isso por meio de documentários de propaganda oficial como os La France en Marche - "A França a Caminho". Esse tipo de colaboracionismo de Estado via a cooperação com os nazistas como única salvação contra a expansão do comunismo. Tal fato levou milhares de franceses a vestir o uniforme do Reich e integrar a Legião dos Voluntários Franceses contra o Bolchevismo.
Para além dessa capitulação oficial, havia também o colaboracionismo anônimo, praticado por franceses que se aproveitaram da situação com finalidades mesquinhas. Esse colaboracionismo era aquele das cartas dedurando judeus, simpatizantes esquerdistas, homossexuais ou comerciantes do mercado negro. Mas o mais impressionatnte de tudo foi mesmo a colaboração de artistas e intelectuais - justamente o circuito em que Coco Chanel se movimentava, ela que era amiga de gente como o compositor Igor Stravinsky, o pintor Pablo Picasso e o bailarino Vaslav Nijinski. As socialites parisienses animavam salões e saraus nos quais a elite da ocupação encontrava a elite da colaboração. A marquesa de Polignac e a milionária Florence Gould recebiam escritores como Robert Brasillach, Louis-Ferdinand Céline ou Jean Cocteau. A situação tinha, claro, suas complexidades - foi graças a tais jantares que Jean Paulhan, escritor, editor e pintor, foi avisado de que seria preso; o teatrólogo Sacha Guitry interveio em favor do poeta Max Jacob; e impediu-se que a mulher do pintor Henri Matisse, Amélie Parayre, fosse para um campo de concentração. Havia quem fizesse jogo duplo, como o artista Pablo Picasso, que, de um lado, escondeu fugitivos e emprestou-lhes dinheiro, mas, de outro, visitava e recebia oficiais da Gestapo.
Com a derrota dos nazistas, os que aderiram aos alemães foram punidos não apenas judicialmente, mas com execração. Ao fim da guerra, 6.091 mulheres foram presas, tiveram a cabeça raspada e, desnudas, foram exibidas em praça pública. As Câmaras Cívicas, instauradas em agosto de 1944, reprovaram sobretudo as que, usando um termo machista da época, tinham tido "colaboração sexual" com os invasores. Houve exageros, claro. Perseguiram-se também aquelas que, desempregadas, tinham encontrado asilo nas fábricas inimigas.
Chanel foi capturada e escapou por pouco. Alguns autores atribuem sua rápida libertação às relações com o duque de Westminster, o amigo de Winston Churchill. Mas ela não foi perdoada. Malquista na França, teve de se esconder na Suíça, de onde só regressou em 1956. Os jornais arrasaram sua coleção, considerada ultrapassada, já que a moda mudara e se endeusava o "new look" de Christian Dior. Seu concorrente resolveu feminilizar as mulheres, em oposição ao look masculino de Chanel (leia quadro acima). Além do Atlântico, contudo, as americanas continuavam apaixonadas por seus "pretinhos básicos". Jacqueline Kennedy usava um tailleur assinado por ela no dia em que John Kennedy foi assassinado.
Durante muito tempo, a França tentou apagar o passado colaboracionista. Nos anos 1958-1968, durante a presidência do general Charles de Gaulle, construiu-se o mito de gauleses unidos em torno da Resistência, opondo-se ao governo de Vichy. Durante a presidência de François Mitterrand, entre 1981 e 1995, o paradigma caiu por terra. Inúmeras pesquisas revelaram os diferentes níveis de colaboração dos diversos grupos sociais. Mais recentemente, os presidentes Jac­ques Chirac e Nicolas Sarkozy tentaram reabilitar a Resistência e manter viva a ideia de que o país sofreu horrores, esmagado sob as botas do Reich.
Nesta nova onda de interpretações, Coco Chanel entra repaginada. No filme, a personagem é totalmente detetizada, desinfetada, limpa. Não se toca em sua cooperação com o inimigo nem nos desdobramentos que sua atitude teria tido. Afinal, é preciso preservar o fenomenal negócio que são suas bolsas, compradas pelas apreciadoras de moda do mundo inteiro, e o rostinho de Audrey Tautou, garota-propaganda do perfume Chanel no 5. Se Coco antes de Chanel é um comercial bem chatinho, pelo menos nos faz lembrar de questões importantes. E, quando se comemoram 70 anos do maior conflito mundial, um pouco de história não faz mal a ninguém.
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Mary Del Piore é historiadora, autora de 25 livros sobre história do Brasil e ganhadora de vários prêmios, entre os quais o Jabuti e o da Associação Paulista de Críticos de Artes.
Matéria publicada na Revista Bravo do mês de outubro de 2009, ano 11, nº 146